Resenha Literária - O Conde de Monte Cristo
Encante-se pela literatura de Alexandre Dumas nesta resenha do clássico "O Conde de Monte Cristo".
S. M. Ocriciano
11/12/2025
Há livros que passam e há livros que ficam, que seguem conosco. O Conde de Monte Cristo é um destes livros que se carimbam na história do leitor.
Figurando entre os maiores nomes da literatura mundial, Alexandre Dumas, através de uma narrativa madura e uma trama envolvente do início ao fim, garante ao romance O Conde de Monte Cristo um lugar incontestável na estante dos grandes clássicos.
Nascido em julho de 1802, Alexandre Dumas viveu em uma França de revoluções políticas, reivindicações sociais e transformações culturais, aspectos que se tornam visíveis em suas obras.
Em O Conde de Monte Cristo, Dumas narra a trajetória de Edmond Dantès, um jovem francês de origem pobre, que carrega pureza em suas intenções. Edmond é um personagem honesto, gentil e talentoso, que se recusa a amaldiçoar a vida, apesar de suas trágicas vicissitudes.
Aos 19 anos, Edmond Dantès, imediato da tripulação do navio Pharaon, recebe a oportunidade de uma promoção a capitão. À essa altura, os laços afetivos de Edmond se resumiam à paixão pela bela Mercédès e ao sentimento de gratidão e amor pelo pai, que vivia sob precárias condições financeiras.
Tendo sua paixão correspondida por Mercédès, Edmond Dantès vislumbra um futuro de realizações e prosperidade, até que uma traição frustra todos os seus planos e rouba-lhe sua liberdade, sua paixão e sua relação com o pai. Preso por um crime que não cometeu, Edmond Dantès é relegado a indigente e abandonado nas masmorras do Castelo de If.
Em seus anos de cárcere, Dantès enfrenta angústias existenciais, degradação física do corpo e isolamento social severo, aspectos que, gradual e incessantemente, ferem sua dignidade e transformam sua identidade.
Ainda durante o cárcere de Edmond Dantès, o leitor é apresentado a um personagem que mudará toda a história dO Conde de Monte Cristo a partir de sua aparição: o Abade Faria.
Abade Faria é um padre e intelectual, colega de cárcere de Edmond Dantès, que serve-lhe como companheiro e mentor, a partir de seu encontro acidental. Abade Faria ensina sobre ciências, política e filosofia a Edmond Dantès, de modo que este, ao finalmente conseguir empreender sua fuga da prisão, torna-se um homem culto, resiliente, paciente e sábio.
Além disso, Dantès recebe como herança do padre, por sua lealdade e companheirismo durante os anos no Castelo de If, as instruções para encontrar um tesouro escondido na ilha de Monte Cristo.
Assim, Edmond Dantès, foragido e tendo jurado vingança contra seus algozes, assume diversas alcunhas ao longo da história, sendo a principal delas a que dá nome ao romance: Conde de Monte Cristo. É a partir do trabalho inteligentíssimo feito pelo conde com a fortuna encontrada na ilha, que se desenrola então a história do livro.
Daí em diante, acompanhamos o desdobramento da vingança meticulosamente orquestrada por Monte Cristo. Um a um, seus inimigos sucumbem ao poder quase divino do Conde, enquanto os leitores conhecem cada pequeno ponto na trama desta vingança que se prolonga por décadas.
Dumas escreve de forma tal que faz o leitor ter plena confiança nos poderes do Conde. Mesmo quando ele aparenta estar em apuros ou sendo derrotado, a fé do leitor nos poderes do Conde não vacila. O leitor atento entende que aquele homem é imbatível, pelo menos até que se cumpra sua vingança.
Ainda assim, a bruma do mistério paira sobre a história e os detalhes do arranjo vão sendo conectados aos poucos, em um ritmo magnético.
Relações forjadas, informações falsas, manipulação de testemunhas, envenenamentos, assassinatos e escândalos familiares aguardam o leitor em uma narrativa protagonizada pelo núcleo da nobreza parisiense.
O Conde de Monte Cristo é um romance que mostra, para além das questões psicológicas individuais de uma vingança, como as injustiças de uma política corrupta e as condições sócio-econômicas completamente desiguais na França do século XIX podem servir de subsídio para a perpetuação de um ciclo de violência e opressão.
A jornada do protagonista é marcada por um sentimento de ódio ao outro e desprezo por regras e leis socialmente construídas para manutenção do privilégio de grupos elitizados. Tais regras servem ao Conde somente como ferramentas para a construção de sua identidade social e incremento de sua influência, sendo descartadas de acordo com suas necessidades ou dobradas perante sua vontade.
O desfecho da história não é do tipo surpreendente, sendo de certa forma esperado pelo leitor, o que não o torna menos desejado.
O personagem do Conde de Monte Cristo é tão cativante e carismático, as injustiças que acontecem em sua história são tão revoltantes e os antagonistas são tão odiosos que torna-se imperativo que o leitor se vincule à história e torça pelo triunfo do Conde.
O Conde de Monte Cristo é um livro que deixa, em sua página final, a sensação de que o navio desaparecendo no horizonte leva embora consigo, para longe e para sempre, um amigo querido.
S. M. Ocriciano


Se interessou pelo livro?
Veja esta e outras obras disponíveis no site da Amazon.




